quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Outro Paradigma: Escutar a Natureza

Por Leonardo Boff

Agora que se aproximam grandes chuvas, inundações, temporais, furacões e deslizamentos de encostas temos que reaprender a escutar a natureza. Toda nossa cultura ocidental, de vertente grega, está assentada sobre o ver. Não é sem razão que a categoria central – idéia – (eidos em grego) significa visão. A tele-visão é sua expressão maior. Temos desenvolvido até os últimos limites a nossa visão. Penetramos com os telescópios de grande potência até a profundidade do universo para ver as galáxias mais distantes. Descemos às derradeiras partículas elementares e ao mistério íntimo da vida. O olhar é tudo para nós. Mas devemos tomar consciência de que esse é o modo de ser do homem ocidental e não de todos.
Outras culturas, como as próximas a nós, as andinas (dos quéchuas e aimaras e outras) se estruturam ao redor do escutar. Logicamente eles também veem. Mas sua singularidade é escutar as mensagens daquilo que veem. O camponês do antiplano da Bolívia me diz: “eu escuto a natureza, eu sei o que a montanha me diz”. Falando com um xamã, ele me testemunha: “eu escuto a Pachamama e sei o que ela está me comunicando”. Tudo fala: as estrelas, o sol, a lua, as montanhas soberbas, os lagos serenos, os vales profundos, as nuvens fugidias, as florestas, os pássaros e os animais. As pessoas aprendem a escutar atentamente estas vozes. Livros não são importantes para eles porque são mudos, ao passo que a natureza está cheia de vozes. E eles se especializaram de tal forma nesta escuta que sabem, ao ver as nuvens, ao escutar os ventos, ao observar as lhamas ou os movimentos das formigas o que vai ocorrer na natureza.
Isso me faz lembrar uma antiga tradição teológica elaborada por Santo Agostinho e sistematizada por São Boaventura na Idade Media: a revelação divina primeira é a voz da natureza, o verdadeiro livro falante de Deus. Pelo fato de termos perdido a capacidade de ouvir, Deus, por piedade, nos deu um segundo livro que é a Bíblia para que, escutando seus conteúdos, pudéssemos ouvir novamente o que a natureza nos diz.
Quando Francisco Pizarro em 1532 em Cajamarca, mediante uma cilada traiçoeira, aprisionou o chefe inca Atahualpa, ordenou ao frade dominicano Vicente Valverde que com seu intérprete Felipillo lhe lesse o requerimento,um texto em latim pelo qual deviam se deixar batizar e se submeter aos soberanos espanhóis, pois o Papa assim o dispusera. Caso contrário poderiam ser escravizados por desobediência. O inca lhe perguntou donde vinha esta autoridade. Valverde entregou-lhe o livro da Bíblia. Atahaualpa pegou-o e colocou ao ouvido. Como não tivesse escutado nada jogou a Bíblia ao chão. Foi o sinal para que Pizarro massacrasse toda a guarda real e aprisionasse o soberano inca. Como se vê, a escuta era tudo para Atahualpa. O livro da Bíblia não falava nada.
Para a cultura andina tudo se estrutura dentro de uma teia de relações vivas, carregadas de sentido e de mensagens. Percebem o fio que tudo penetra, unifica e dá significação. Nós ocidentais vemos as árvores mas não percebemos a floresta. As coisas estão isoladas umas das outras. São mudas. A fala é só nossa. Captamos as coisas fora do conjunto das relações. Por isso nossa linguagem é formal e fria. Nela temos elaborado nossas filosofias, teologias, doutrinas, ciências e dogmas. Mas esse é o nosso jeito de sentir o mundo. E não é de todos os povos.
Os andinos nos ajudam a relativizar nosso pretenso “universalismo”. Podemos expressar as mensagens por outras formas relacionais e includentes e não por aquelas objetivísticas e mudas a que estamos acostumados. Eles nos desafiam a escutar as mensagens que nos vem de todos os lados.
Nos dias atuais devemos escutar o que as nuvens negras, as florestas das encostas, os rios que rompem barreiras, as encostas abruptas, as rochas soltas nos advertem. As ciências na natureza nos ajudam nesta escuta. Mas não é o nosso hábito cultural captar as advertências daquilo que vemos. E então nossa surdez nos faz vitimas de desastres lastimáveis. Só dominamos a natureza, obedecendo-a, quer dizer, escutando o que ela nos quer ensinar. A surdez nos dará amargas lições.
 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Natal, no Ashram Aoniken: O verdadeiro sentido do Natal!

 

Ah... que Natal, que alegria poder desfrutar desse bom velhinho.
O Natal começou antes pensando como passaríamos, com quem, até que decidimos passar no ashram... neste LAR, que esquenta nossos corações... E queríamos muito compartilhar nossa mesa e falava a Melu e Esmeralda que teríamos uma mesa esticada, compartida, lembrando do último Natal passado em Floripa onde fomos as ruas levando uma ceia e celebrando com os moradores de rua, bah que lembrança.
E assim foi que na sexta-feira junto com os novos aspirantes Nilton e Magali, Melu, Rudá e Esmeralda, visitamos umas famílias de catadores de papel que moram aqui próximo e ficou combinado passarmos juntos o Natal, ali na casita deles. Mas no dia seguinte, sábado de natal, amanhecemos com uma chuvinha cotinha, e que dia, bah... a cozinha começou cedo, e logo a ritmo de Hare Krishna, preparamos com carinho e alegria as comidas (gracias Rosário e Rocio pela ajuda na compra das comidinhas), Tucac e Amankay passaram a tarde e deixaram bebidas e comidas que haviam providenciado,  estava tudo pronto, mas a chuva não parava, e a casinha não comportaria as 30 pessoas esperadas, então as Shaktis lideradas por Melu ao meditarem no salão, disseram:
- E se trouxéssemos as pessoas pro ashram e fizéssemos no salão? Passamos também pelo salão e a energia do encontro ainda se sentia gordinha e pipocando... E assim começamos a esticar as mesas, hhhehehe e decoramos e realizamos algumas viagens com a Mikaela  (pata quem não foi apresentado, nosso carro tem esse nome) pra trazer a todos, e ao final vieram dezoito adolescentes e crianças e um adulto...
Bah.... que maravilha fazer uma carta gigante de Natal pra todos que ainda não haviam escrito para o Bom Velhinho... brincamos, cantamos, merequeteamos, entramos na casa do zé, a alegria se fazendo forte e irradiante...
e com luzes apagadas e uma velinha acesa ao pé da nossa árvore de Natal, entramos num clima mágico de aconchego  e celebramos com muitas historinhas e mensagens, e ali entregamos os presentes, lembramos da estrela mais alta na árvore e sonhamos juntos, com a santa e sagrada ESPERANÇA... ah... ver os olhinhos brilhando, o corpo relaxando e se soltando em gargalhadas e uma loucura sagrada e natalina...
E achava que o Natal estava feito... começamos a levar todos de volta, e mais algumas viagens e estaria pronto... Mas o que não havia contato é que na primeira visita a eles, Rudá havia se encantado com o Tiago, um menino de 5 anos que não tinha podido vir ao ashram... Rudá tinha separado alguns dos brinquedos dele pra todas as crianças, mas pro Tiago ele queria muito entregar pessoalmente e brincar com seu gatinho... assim depois de levar todas as crianças fomos nós visitar a casa do Tiago e ele estava na casa da Abuela... que lugar... que lar.... entramos em uma casa minúscula, simples, humilde e ali meu coração se encheu e senti o espirito natalino dançando nos olhos daquela senhora que tem mais de 20 netos e sorri com a brandura e confiança de uma deusa, ah... que maravilha, levamos umas comidinhas, desfrutamos da sobremesa que ela havia preparado, e nos enamoramos da morada e da presença... do amor, do porto seguro...
aos poucos outros foram chegando, uns entravam e outros saiam, revezando-se pois não cabíamos todos ali, mas a ceteza de Cristo por ali, ah...
e quando íamos entrando no carro para voltar a casa do maestro, outra cena que guardo: um dos filhos preparando a charrete pra ir embora, e se subiram as crianças, a mulher e, a charrete  completa seguiu, puxada a um cavalo de força, como se estivéssemos em outro espaço tempo, e Papai Noel nos mostrasse suas muitas carruagens, trenós e casitas...
Assim será nossa amada NAÇÃO PACHAMAMA, simples humilde com o espaço necessário em nossas casas e corações apenas pra que o espirito cristico nos inspire...  solidário, sem cercas ou muros, com mesas esticadas, como uma só família, um só povo, em uma só situação a de abandono e desapego ao privado, e vivendo em um só coração, em fraternal alegria, sem preconceitos, sem castas sociais, ou contas bancárias, pois o novo se fara desde estes que vivem da miséria, pois neles dança o Reino dos Céus e abunda a santa alegria e gratidão pelo pouco que tem, pois dali vem a verdadeira riqueza de mostrar que com tão pouco se pode ser tão feliz e sustentar a tantos, ah... que lindo estes que são ricos por necessitar tão pouco...
Assim nos despedimos, vimos a carroça se indo com tanta alegria, e nos fomos também com o coração quente e plenos dessa borbulha de LAR VISITADO PELO SENHOR!! E nos dormimos agradecidos deste sagrado sábado de Natal.
 
Om guru deva om
Munay Flores

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Um Presente do Irmão Isaias

 
Irmãos e companheiros de jornada,

Como presente de final de ano ofereço umas palavras de Cecilia Meireles.

Muitos abraços e beijos - durante o final deste ano e por todo o ano que se inicia

Isaias Sandoval



Cânticos – IX

Os teus ouvidos estão enganados.
E os teus olhos.
E as tuas mãos.
E a tua boca anda mentindo
Enganada pelos teus sentidos.
Faze silêncio no teu corpo.
E escuta-te.
Há uma verdade silenciosa dentro de ti.
A verdade sem palavras.
Que procuras inutilmente,
Há tanto tempo,
Pelo teu corpo, que enlouqueceu.
Cecília Meireles
Por uma pausa, por um minuto de silêncio no corpo, antes que ele se perca de vez.

Que símbolo escolhes para a nossa bandeira Sandoval?