segunda-feira, 29 de junho de 2009

A rapina da nação

Cresce a cada dia a indignação dos brasileiros com a parcela da classe política que insiste em praticar o patrimonialismo, utilizando o poder e a representatividade para se beneficiar. Tanto nos recentes episódios do Senado quanto em outras situações denunciadas pela imprensa, verifica-se a confusão deliberada entre o público e o privado, o apadrinhamento de parentes e amigos, o uso indevido de recursos e a partilha de cargos e vantagens funcionais entre amigos, familiares ou correligionários, num processo de nepotismo direto ou indireto, em sentido estrito ou mais amplo. A confusão entre público e privado, que está no próprio conceito do que seja patrimonialismo, estende-se agressivamente ao exercício da administração pública num processo de imperturbável aceleração. A praga nefasta está grudada em todas as áreas dos poderes da República. Há escândalos federais, há mazelas estaduais e há irregularidades municipais, nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Evidentemente não cabem generalizações, mas o número de escândalos denunciados são mais que suficientes para indicar algo grave nas instituições do país.O Senado Federal, foco atual de uma teia de relações e decisões promíscuas, não cessa de fornecer lenha para a indignação nacional. Começou com a descoberta pelo país de que, mesmo num mês de recesso, milhares de funcionários da Casa receberam horas extras, ampliou-se com a revelação de que, para 81 senadores, havia uma estrutura de 181 diretorias e transformou-se em escândalo aberto ao se informar que, para acobertar nomeações suspeitas ou benefícios polêmicos, a Mesa do Senado acumulava um segredo de mais de 600 atos. A Câmara de Deputados, fora do foco dos escândalos, assim mesmo produziu a escandalosa decisão de pagar com o dinheiro do contribuinte passagens aéreas para levar a festa nordestina uma notável namorada de deputado.Infelizmente, essas demonstrações de um patrimonialismo ultrapassado e pernicioso (embora de prática absolutamente atual) não são exclusividade do Congresso. O país está farto de acompanhar pela imprensa ou pelas CPIs denúncias sobre irregularidades cometidas em outras áreas do poder. Os escândalos do Mensalão e dos Sanguessugas, os bilhões entregues a entidades que os consomem sem fiscalização ou controle, o aparelhamento partidário da estrutura pública (que representa um desvirtuamento do papel do Estado), o uso eleitoral da máquina administrativa, tudo isso configura utilização equivocada quando não criminosa dos recursos com os quais a sociedade contribui para a manutenção do poder público.A denúncia de falcatruas, de corrupção, de nepotismo e de todas as demais mazelas praticadas pelos administradores é um dever que os sistemas de fiscalização e controle precisam manter e ampliar. Ao transformar esses atos em escândalos, pela publicidade que ganham, tais sistemas e a imprensa cumprem a tarefa histórica de dar condições a que a estrutura pública se aprimore, que se respeite o dinheiro público e se valoriza a escolha que os eleitores fizeram nas urnas.

Fonte: Diário Catarinense, 28 de junho de 2009. N° 8480,EDITORIAIS

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